(Por CNN Brasil)
O aumento na prevalência de microrganismos resistentes aos antimicrobianos, como as superbactérias, coloca em risco a vida de humanos e de animais. Uma das maiores ameaças à saúde global atualmente, o problema está associado diretamente ao uso excessivo e incorreto dos medicamentos, incluindo antibióticos, antifúngicos e antiparasitários, e ao descarte de resíduos dos fármacos no meio ambiente.
Um grupo de líderes globais sobre o tema pediu, nesta quarta-feira (2), que os países reduzam a quantidade de resíduos antimicrobianos que acabam indo para o meio ambiente. Criado em 2020, o núcleo inclui chefes de estado, ministros de governo e líderes do setor privado e da sociedade civil.
Os especialistas destacam a necessidade de novos estudos e da implementação de medidas para o descarte com segurança dos resíduos provenientes dos sistemas de saúde humana e animal, de alimentos e da indústria.
Os desafios ambientais mais urgentes do planeta estão em destaque na Assembleia das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente, que acontece em Nairóbi, no Quênia, de 28 de fevereiro a 2 de março.
Resíduos de antimicrobianos poluem o meio ambiente
Antimicrobianos administrados a humanos, animais e plantas entram em contato com o meio ambiente e fontes de água por meio de águas residuais, lixo, escoamento e esgoto.
Com isso, os medicamentos entram em contato com microrganismos presentes na natureza. Quando expostos às substâncias, parte deles adquire mecanismos de resistência – o que significa que, quando forem expostos novamente ao antimicrobiano, eles podem permanecer vivos, ampliando o processo de resistência.
Os pesquisadores defendem que reduzir a quantidade de poluição antimicrobiana no meio ambiente é crucial para conservar a eficácia dos medicamentos disponíveis para o tratamento de infecções.
No apelo, os líderes globais pedem melhorias das medidas para a gestão e eliminação de resíduos contendo antimicrobianos e escoamento de locais de fabricação, fazendas, hospitais e outras fontes. Além disso, os países são chamados a desenvolver e implementar regulamentos e padrões para melhor monitorar e controlar a distribuição e liberação de antimicrobianos.
No Brasil, por exemplo, a venda de antibióticos em farmácias e drogarias depende de apresentação da receita de controle especial.
O grupo lista ainda ações como o desenvolvimento de padrões nacionais para controle da poluição por antimicrobianos, reforço na vigilância do cumprimento das leis e políticas para reduzir o uso dos fármacos, e a implementação de normas para tratar e gerir os descartes da pecuária e agricultura.
Riscos à saúde global
O grupo de pesquisa alerta que a falta de ações terá consequências graves para a saúde humana, animal, vegetal e ambiental.
Drogas antimicrobianas são usados amplamente na medicina humana e veterinária em todo o mundo. Eles são usados para tratar e prevenir doenças em humanos e animais e, às vezes, para promover o crescimento de animais saudáveis. Os pesticidas antimicrobianos também são usados na agricultura para tratar e prevenir doenças nas plantas.
Esse uso excessivo e incorreto dos antimicrobianos leva a um aumento na resistência às drogas, tornando as infecções mais difíceis de tratar.
A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Paula Assef, afirma que a resistência eleva os custos de tratamentos, prolonga a permanência dos pacientes nos hospitais e aumenta os índices de mortalidade.
“Com o esgotamento das ações terapêuticas, infecções que hoje são conhecidas por ter um tratamento simples, poderão, no futuro, causar danos maiores ao organismo, na medida em que teremos menos recursos para combatê-las”, disse.
Os microrganismos resistentes a medicamentos causadores de doenças podem ser transmitidos entre humanos, animais, plantas e alimentos e no meio ambiente. A crise climática também pode estar contribuir para o aumento da resistência antimicrobiana.
De acordo com o grupo de pesquisa, as infecções resistentes aos medicamentos contribuem para quase 5 milhões de mortes todos os anos. Especialistas estimam que sem ações efetivas, o mundo poderá chegar a um ponto de inflexão em que os antimicrobianos necessários para o tratamento não serão mais eficazes.
De acordo com a copresidente do grupo, Mia Amor Mottley, primeira-ministra de Barbados, os impactos poderão atingir os sistemas de saúde, economias e segurança alimentar a níveis globais.
“As conexões entre resistência antimicrobiana, saúde ambiental e crise climática estão se tornando cada vez mais fortes”, disse Mia, em um comunicado. “Devemos agir agora para proteger o meio ambiente e as pessoas em todos os lugares dos efeitos prejudiciais da poluição antimicrobiana”, completou.