“Pantanal dos segredos”: Expedição de O Estado revela um bioma intocado; descubra
Foto: Valentin Manieri/O Estado MS
Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

Quando o assunto é Pantanal, a discussão vai muito além sobre se é do sul ou de Mato Grosso. No passado, o estado vizinho se vangloriou do bioma, insistindo que fosse só seu. Nunca foi. Com o sucesso da novela homônima dos anos 90, o destaque se dividiu para o localizado em MS. O folhetim retornou neste ano como remake, realçando a natureza de onça, rio e flora. Mas Pantanal é muito mais que o da televisão. É seca que assola há três anos os ribeirinhos, é fogo que destruiu 26% de seu território e são as belezas a serem compartilhadas.

Jornal O Estado percorreu 550 quilômetros em barco durante sete dias, conhecendo os segredos de um Pantanal intocado. É o caso do Payaguás dos Xarayés, local de verde abundante e águas cristalinas iguais as da cidade turística de Bonito, a ser revelado nesta primeira reportagem. A série “O Pantanal dos segredos” irá também apresentar nesta semana o relato de sua gente: histórias curiosas, desafios e oportunidades desconhecidas até pelo sul-mato-grossense.

Entre o verde do Cerrado, nos tons “áridos” dos últimos três anos de seca, e o desenho da Serra do Amolar, ao norte, a acompanhar a viagem, a suposta terra firme esconde na vegetação uma imensidão alagada inacreditável – por vezes de água tão cristalina quanto a de Bonito, mas em território tão pantaneiro quanto seu nome. Coisa que pouca gente viu ou acredita existir.

“Pantanal de segredos” é o mesmo que revela águas tão cristalinas quanto as de Bonito. Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

Terra do chamado Payaguás dos Xarayés, região do Alto Rio Paraguai, mostra a natureza e sua gente, da crise ambiental aos potenciais econômicos. Desmistificar e respeitar. Preservar. Ao fim, se verá que o Pantanal não é só o verdadeiro “quintal de MS”, mas o bioma de onde nada se espera, e ainda assim tudo se encontra.

Como por exemplo a chalana que, no ritmo do remanso, carrega família, geladeira e fogão, e bem longe se vai. Nas margens dos seus afluentes, um povo hospitaleiro sobrevive sempre com um sorriso no rosto e a graça da vida simples, mesmo em meio às adversidades. E o que falar da fauna, das ariranhas em coreografia sincronizada e dos gaviões donos do ar? Indomáveis. De surpresa, a flora despertou em um grupo de vitórias-régias o nascer nas águas pantaneiras – que hoje as chamam de lar.

De surpresa, a equipe de reportagem avistou um grupo de vitórias-régias no Pantanal de MS. Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

“Seu Oscar” é piloteiro na região há mais de 30 anos. Para ele, “lugar melhor não há”. Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

Aventura também não falta quando o motor afoga e o barco fica à deriva. A tensão de ficar perdido nesse “jardim” deu espaço a 20 minutos de pura contemplação. Silêncio maior impossível, e que a vida urbana desconhece. No campo, de manhã bem cedo, saem os pescadores com suas embarcações para mais um dia de labuta. Meta é trazer o tanto de iscas vivas e caranguejos que conseguirem. Trabalho árduo que, quando terminam o expediente, já é de noitinha – horário em que morcegos infestam o céu com suas acrobacias espetaculares. No horizonte, o sol se despede em meio a um gradiente que não se vê em outro lugar, pintura que preenche os olhos de cor.

Pois há neste mesmo Pantanal um dos maiores desastres ambientais ainda em curso. De acordo com o presidente do Instituto Agwa, o advogado Nelson Araújo Filho, situação que começou pelo assoreamento do Rio Taquari. Cerca de 200 km à frente do município de Coxim, a água “some” do mapa e volta em arrombamentos que hoje transformaram o Payaguás dos Xarayés em um santuário ecológico. A antiga paisagem do agronegócio, dos estimados 2 milhões de cabeças de gado até o fim dos anos 80, se tornou negócios afundados. Literalmente: 800 mil hectares permanentemente alagados. A natureza que é sábia deu seu jeitinho. Arruinou fazendas, tornou sedes em esqueletos no tempo abandonado pelo caminho, mas hoje abriu a porteira do potencial turístico. Só não investe quem tapa os olhos.

Jovem pantaneiro se abriga do calor em meio às belezas de rio e vegetação camalote. Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

“Temos de cuidar, tentar ao máximo deixar como já está. O passado não tem mais volta. Nesse meio-tempo, porém, as potencialidades do local, para sua gente, para o Estado, são inúmeras. E uma coisa garanto: há mercado para isso. Basta MS redescobrir o seu próprio Pantanal”, opina Nelson. Pelo Instituto Agwa, ele foi o pivô dessa expedição fantástica ao coração do “quintal” pantaneiro – e que agora será possível conferir com exclusividade.

Capa da edição desta terça-feira (26) do Jornal O Estado MS, com destaque para a série especial “O Pantanal dos segredos“.

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