Estudo norte-americano mostrou que aves migratórias estão encolhendo devido às mudanças do clima e aquelas com cérebros menores são as mais afetadas

Katie Hunt – CNN

A cada primavera e outono, milhares de pássaros morrem quando colidem contra os arranha-céus de Chicago, que ficam em uma importante rota de migração das aves que seguem entre o Canadá e a América Latina.

Mas os pássaros não morrem em vão. Desde a década de 1970, muitos deles foram coletados na rua e catalogados pelo Museu Field da cidade. Esse conjunto único e detalhado de dados foi um sucesso científico, revelando que as aves migratórias norte-americanas parecem estar encolhendo em resposta às mudanças climáticas.

Um novo estudo desses dados destacou uma nuance importante nessa tendência: as aves que têm cérebros maiores, em relação ao tamanho do corpo, não estão encolhendo tanto quanto aquelas com cérebros menores.

O estudo é o primeiro a identificar uma ligação potencial entre a cognição e a resposta animal às mudanças climáticas provocadas pelos humanos, de acordo com os pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos.

“À medida que as temperaturas aumentam, os tamanhos dos corpos diminuem”, disse em nota à imprensa Justin Baldwin, estudante de doutorado na Universidade de Washington e autor do estudo publicado na revista Ecology Letters. “Mas as espécies de cérebros maiores estão diminuindo menos fortemente do que as espécies de cérebros pequenos”.

De acordo com a pesquisa, o tamanho relativo do cérebro é frequentemente considerado um indicador de flexibilidade comportamental em aves. A ideia é controversa quando aplicada a alguns outros animais, disse Baldwin, mas funciona para os pássaros.

“Tamanho relativo do cérebro se correlaciona com maior capacidade de aprendizagem, maior memória, maior expectativa de vida e dinâmica populacional mais estável”, disse Baldwin.

“Neste caso, uma espécie de ave de cérebro maior pode ser capaz de reduzir sua exposição a temperaturas mais altas, procurando microhabitats com temperaturas mais baixas, por exemplo”, disse ele.

Os pesquisadores analisaram informações de 70 mil pássaros que morreram após baterem contra os prédios em Chicago entre 1978 e 2016. Eles adicionaram medições de volume cerebral e dados de expectativa de vida de 49 das 52 espécies do banco de dados.

O estudo descobriu que aves que tinham cérebros grandes, em relação a seus corpos, como o pardal-canoro e outros pardais do Novo Mundo, tiveram reduções de tamanho corporal de cerca de apenas um terço daquelas observadas para pássaros com cérebros menores. As toutinegras da madeira (Parulidae) tendiam a ter cérebros menores e tendiam a encolher mais.

“Os autores desse estudo incrível compartilharam seus dados brutos […] o que nos permitiu adicioná-los e descobrir mais”, disse Baldwin por e-mail.

Metamorfose

Não se sabe exatamente por que as aves estão diminuindo de tamanho. O tamanho corporal maior ajuda os animais em lugares frios a se manterem aquecidos, enquanto um corpo menor retém menos calor.

Os pesquisadores descobriram que a envergadura das asas das aves pode ter aumentado para compensar corpos menores que produzem menos energia para as distâncias incrivelmente longas percorridas durante a migração.

Da mesma forma, outras pesquisas descobriram que alguns animais estão desenvolvendo bicos, pernas e orelhas maiores que lhes permitem regular melhor a temperatura corporal à medida que o planeta fica mais quente. Embora a maioria das mudanças morfológicas tenha ocorrido em aves, morcegos e musaranhos também foram afetados. As mudanças climáticas têm alterado até os corpos humanos.

No entanto, a redução do tamanho tem um custo potencial para uma ave, com um risco aumentado de ser vítima de predadores ou dificultar a competição por recursos com outras espécies de aves, disse em nota o coautor do estudo Carlos Botero, professor assistente de biologia da Universidade de Washington.

É neste contexto que ter um cérebro maior pode oferecer alternativas que não estão disponíveis para espécies de cérebro pequeno, disse ele.

“Uma das primeiras coisas que me salta à vista dessas descobertas é que já podemos ver que a mudança climática está tendo um efeito desproporcional em espécies que têm menos capacidade de lidar com a mudança ambiental por meio de seu comportamento”, disse Botero.

“Isso não significa que a mudança climática não esteja afetando os pássaros inteligentes […] ou que eles vão se sair bem. O que nossas descobertas sugerem é que a mudança climática pode ter um efeito muito mais forte sobre os pássaros menos inteligentes”.

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